em casa
josé
Eu nunca fui a mãe que brinca bastante. Que faz pistas de carrinho, que cria vozes engraçadas para conversas entre personagens, que faz chá da tarde com as bonecas, e constrói casinhas, e escolas, e cidades, e túneis, e galáxias, e todas as outras coisas complicadas que nos pedem para construir uma vez que você começa.
Eu não sou essa pessoa.
Tá, já tive alguns momentos assim. Mas que não passaram disso: momentos. Episódios soltos e isolados.
Veja bem, claro que a gente muda. Que podemos modificar, abrir mão, nos esforçar, que somos cabíveis de inúmeras transformações (amém!)
Também é nítido, pelo menos pra mim, que filhos são, talvez, o maior incentivo para qualquer mudança.
Acontece que nem toda batalha tem motivo de existir e nem todo empenho tem razão de ser.
Eu não sou a mãe que brinca sentadinha no chão.
Mas sou a mãe que passeia. Que carrega junto pra tudo quanto é canto. Para a praia, pro mercado, pro mato, pra lavanderia de moedinha, praça, parquinho, trilha.
E, sem querer, o meu mundo e o mundo deles se encontram.
Por isso a pergunta:
O que VOCÊ gosta de fazer? (Ou tem que fazer? Só para deixar claro que ir no mercado e lavar roupa não são exatamente os meus hobbies).
Gosta de cozinhar?
Então seja a mãe Rita Maria (mistura de Rita Lobo e Ana Maria, que é mais da minha época), que inventa moda e bagunça a cozinha.
Artes?
Seja a mãe Faber (Castell para os não íntimos), que faz projetos e desenhos.
Praia?
Seja a mãe que mergulha, enche baldinho, pula onda empolgada, sente a bunda mole balangando e segue pulando.
Em tempos de culpa instantânea e de remorso de estimação é importante falar dessas coisas simples.
Lembrar que o que nós somos e as coisas que nos dão alegria podem virar palco para aquilo que eles gostam.
E o brincar junto, a imaginação, as conversas e as risadas, também acontecem fora do tapete, às vezes, bem longe da Fisher Price.
Autora: @rafaelacarvalhoescritora