família

lorenzo

Nem tudo é falta de conexão.


Às vezes é preguiça. Somente preguiça. Pura, mera preguiça. Tendência do ser humano de preferir o sofá ao lixo do banheiro que precisa ser tirado.


Às vezes é irmão sendo irmão. Irmãos brigam. Mesmo vocês conectados, grudados com superbonder, olho no olho, nariz com nariz. Estranho seria se não brigassem. Há situações em que é um saco ter irmão. Emprestar, dividir, ouvir e ter que olhar pra mesma fuça o dia todo (fuça essa que você não escolheu!) E não há esforço que mude essa verdade.


Nem tudo é falta de conexão.


Às vezes é coisa da idade.


Pré-adolescente testando limites, regras, a eficácia do seu creme antirrugas e do seu chá relaxante. Porque é isso que pré-adolescentes fazem.


Adolescente fazendo cagada (mesmo você ensinando com toda conexão do universo) porque é assim que certas experiências são construídas.


Às vezes é vontade de ficar quieto. De tomar suco de uva e só tem de maçã. Mau humor. Nu e cru. Uma bunda que dormiu descoberta.


É verdade que a conexão com os pais faz com que fique muito mais fácil percorrer os desafios do cotidiano. Mas achar que a causa de todo comportamento desgostoso é falta de conexão é complicado.


E ainda traz uma culpa que nem sempre faz sentido. Porque, afinal, se estou presente de corpo e alma e ainda assim meus filhos brigam, aprontam, AND fazem drama pra arrumar o quarto, então a nossa conexão é mequetrefe.


Conexão sozinha não faz ninguém sentir vontade de lavar louça todos os dias.


“- Tô tão conectada a minha mãe hoje, vou ali esfregar o feijão que grudou na panela.”


Não dá para ignorar a humanidade dos nossos filhos. Por mais fofos que eles sejam.


Gente é gente. Sente lezeira, tem alterações de humor causadas por gatilhos físicos, emocionais e, segundo astrólogos, até astrais.


Conecte-se ao seu filho porque é passo essencial na criação. Mas saiba que conexão sem todo o resto (disciplina, repetição, consistência, uma surtada aqui, um respiro lá) não faz milagre na casa de ninguém.


Tenha cautela ao etiquetar “falhei” em características que são humanas.


Somos apenas pessoas.

E enxergar nossos filhos como tais também é fundamental.


Autora: @rafaelacarvalhoescritora