\ carta aberta às crianças que ainda não nasceram

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4min de leitura

Crianças,

Há quase 9 anos eu comprava minha primeira câmera sem nenhuma noção do que isso faria na minha vida quase uma década depois. No auge dos meus 18 anos, comecei cometendo o erro clássico de quase todo fotógrafo: fotografando vocês por achar que seria mais fácil e menos responsabilidade. Eu era inocente, meus pequenos! Mas eu aprendi rápido que fotografar famílias como as suas é a maior responsabilidade da vida de um profissional que conta histórias. Sim! Eu sou contadora de histórias e bem sei que vocês vão gostar de escutar várias quando sair dessa barriga. Então vou contar a minha história hoje!

Do mesmo jeitinho que vocês estão aí dentro, meu Manoel e minha Liz também estavam dentro de mim. Eu também cantava pra eles e sentia cada cambalhota que eles faziam aqui dentro. E foi aí que tudo começou a mudar. Fotos não eram mais apenas imagens bonitas. É a história deles que eu percebi que apenas eu, a mãe, poderia guardar por eles. Engraçado, né crianças? Eu li tantas coisas sobre alimentação, saúde, educação, criação com apego... mas não encontrei nenhum livro que falasse de como os pais são responsáveis pela construção das memórias. Mas é porque isso é um clichê: o tempo passa! Mas é clichê até que acontece com a gente.

Vocês vão escutar muito isso, pequenos. Pra aproveitar a infância, pra curtir seu papai e mamãe enquanto ainda estão com você. Mas são frases que só fazem sentido depois de muitos, muitos anos. Assim como as histórias que eu conto!

Alguns pais me dão o presente de me escolherem para guardar momentos para que daqui 30, 40, 50 anos a saudade seja grande, mas suportável. Porque, meninos e meninas, vou contar um segredo: saudade não se mata. Vocês sabem o que é isso? Saudade é querer, incansavelmente, viver aquele momento de novo. E eu ajudo famílias a terem isso de uma forma bonita, mas principalmente da maneira mais sincera e fiel que encontrei: a fotografia.

Não é da saudade que eles vão sentir de vocês que eu estou falando. É da que VOCÊS vão sentir. A foto é pra vocês, não para os pais de vocês!

Suas histórias estão começando, mas já não posso dizer que é uma página em branco. Estamos fazendo o nosso melhor para vocês chegarem nesse mundo com um capítulo maravilhoso escrito, mesmo que ainda não saibam ler (não vão precisar).

Então, fica tranquila, criança. Estamos cuidando de tudo por você.

Dê cambalhotas. Chupe o dedão do pé. Aproveite as noites mais frias pra afofar as costelas da mamãe. Passe o dia todo só do lado direito. No outro dia, experimente fazer o contrário. Senta um pouco pra agonia de quem espera que você escorregue pelo caminho do arco-íris. E confia. Confia que seu papel é só chegar. Nascer. Aprender a lidar com luz, ar e roupas. Pode acalmar seu coração, pequeno. Brincar com o cabelo da mamãe e sorrir no meio da troca da madrugada.

Aprenda a rolar, rastejar, engatinhar. Não pule fases, passe por todas bem devagar. Chore sem motivo e ria ao acordar as 5:30 querendo brincar. Jogue água pra fora da banheira. Amasse o mamão com as suas mãozinhas. Suba em árvore, machuque o joelho pela primeira vez, faça xixi na cama três vezes na noite anterior daquela reunião importante dos seus pais. Chore no primeiro dia de aula. Volte pra casa com a calça nova rasgada. E não se preocupe em tentar lembrar de tudo o que você tem feito aí dentro e aqui fora nesses primeiros anos. Estamos cuidando justamente pra você nunca esquecer.

Com amor (e sinceridade),Marcela Rosa.

Você nunca tinha pensado o quanto é responsável pela construção da memória do seu filho? Fica tranquila, mãe. Eu também demorei. Mas ser mãe é exatamente isso. Não é o destino, é o caminho. Aprendemos a ser mãe assim como eles aprendem a ser filhos. E começar a qualquer momento. Posso te ajudar nisso!

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